segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Meu corpo é da minha própia conta...




Freqüentemente me questiono se as pessoas me vêem como uma muçulmana fundamentalista terrorista radical, carregando um rifle de assalto AK-47 dentro de meu casaco. Ou pode ser que me vejam como uma garota de pôster das mulheres oprimidas de todo o mundo. Eu não estou bem certa.

Eu atraio toda a gama de olhares estranhos, fixos, e olhadelas disfarçadas. Você vê, eu uso um "hijab", um lenço que cobre minha cabeça, pescoço e garganta. Eu o uso porque sou uma muçulmana que acredita que seu corpo é assunto seu.

Jovens muçulmanas estão restaurando o "hijab", reinterpretando-o à luz de seu propósito original - devolver às mulheres o controle de seus próprios corpos. O Alcorão nos ensina que homens e mulheres são iguais, que os indivíduos não devem ser julgados de acordo com seu sexo, beleza, riqueza ou privilégio. A única coisa que faz uma pessoa melhor que a outra é seu caráter. Apesar disso, as pessoas tem dificuldades em relação a mim. Afinal, eu sou jovem, nascida e educada no Canadá, nível universitário - por que eu faria isto a mim mesma, eles perguntam.

Estranhos falam comigo em inglês em tom alto e lentamente e freqüentemente parecem estar dizendo charadas. Eles educadamente me perguntam se eu gosto de viver no Canadá e se o frio me incomoda. Se eu estou de bom humor, isto pode ser muito divertido. Mas, por que iria eu, uma mulher com todas as vantagens de uma educação norte-americana, de repente, aos 21, querer me cobrir de modo que com o "hijab" e as outras roupas que escolho usar, somente meu rosto e minhas mãos apareçam? Por que, para mim, isto me dá liberdade.

Mulheres são ensinadas desde a infância que seu valor é proporcional à sua atratividade. Nos sentimos compelidas a perseguir noções abstratas de beleza, entendendo pela metade que tal objetivo é fútil. Quando as mulheres rejeitam esta forma de opressão, elas enfrentam o ridículo e o desprezo. Sejam as mulheres que se recusam a usar maquiagem ou raspar suas pernas, ou expor seus corpos, a sociedade, homens e mulheres, tem problema em lidar com elas.


No mundo ocidental, o "hijab" passou a simbolizar ou um silêncio forçado ou militância radical inconsciente. Na realidade, não é nem um nem outro. É simplesmente a afirmação da mulher de que o julgamento de seu físico não tem papel a desempenhar na interação social. Usar o "hijab" tem me libertado de uma constante atenção ao meu físico. Porque minha aparência não é objeto de escrutínio público, minha beleza, ou talvez a falta dela, foi removida do campo do que legitimamente pode ser discutido.

Ninguém sabe se meu cabelo está como se eu tivesse acabado de sair de um salão de belezas, se eu ganhei ou não algumas polegadas, ou até mesmo se tenho invisíveis estrias. E porque ninguém sabe, ninguém se importa. O sentimento de que alguém tem que atingir os impossíveis padrões de beleza estabelecidos pelos homens é cansativo e freqüentemente humilhante. Eu devia saber, passei minha adolescência inteira tentando alcançá-los. Estava no limite bulímico e gastei muito dinheiro que não tinha em poções e loções na esperança de me tornar a próxima Cindy Crawford.

A definição de beleza está em constante mudança; ser atlética é bom - desculpe, atlética é ruim. Quadris estreitos? Ótimo. Quadris estreitos? Péssimo. Mulheres não conseguirão igualdade com o direito de expor seus seios em público, como algumas pessoas gostariam que você acreditasse. Isto apenas faria de nós parte de nossa própria objetificação. A verdadeira igualdade será obtida quando as mulheres não precisarem se expor para atrair atenção e não precisarem defender suas decisões de manter seus corpos para si mesmas.



Texto de Naheed Mustafa. Naheed Mustafa é canadense e se graduou com menção honrosa em Ciências Políticas e História na Universidade de Toronto. Atualmente cursa Jornalismo na Universidade Politécnica de Ryerson.



O uso do Hijab, torna-se muito polemico. E seu significado para as mulheres que usam varia bastante: Allah recomenda que suas filhas cubram a cabeça, mas este cobrir a cabeça, não tem absolutamente relação com a submissão a um homem, mas uma relação da mulher, com seu Deus. Para muitas irmãs também o hijab, faz com que se identifiquem como muçulmana, e façam vistas ao púbico sua opção religiosa. A quem diga que o hijab devas ser um obrigação de mulher muçulmana usar, já outras defendem que as Escrituras, davam esta recomendação em determinado contexto de época para as filhas e mulheres do Profeta. Dependendo da interpretação isto variar muito. E também há muçulmanas que não usam Hijab, e são muitas, e estas não deixam de serem muçulmanas por esto. Estas devem ser respeitadas. Não me cabe julgar, condenar alguém. Eu escolhi usar o Hijab, existem irmas que escolheram não usar. Somos todas irmas da mesma fé, somos todas mulheres, somos todas muçulmanas.

Há ainda outra briga: as convertidas decidem usar o véu e tem gente que acha que elas querem imitar as mulheres árabes, já que o véu seria uma característica da cultura árabe, e não do Islam. São todas essas posições e opiniões se confrontando.

Mas o véu, acima de tudo, é uma escolha pessoal. Uma mulher o usará se achar que ele é bom, se escolhê-lo como símbolo da sua identidade muçulmana, se se sentir bem com ele ou até se quiser ser árabe por um dia (mais uma vez: ser muçulmano não é ser árabe) rsrs. Não se pode forçar uma mulher a usa-lo. Muçulmanas devem usa-lo porque realmente querem. Então, quando virem uma mulher de véu por aí, não a vejam, como oprimida, mas como uma mulher que escolheu aquilo e que se sente bem daquela maneira, conversem com ela.


Brevemente pretendo trazer um depoimento de uma irma que não usa o Hijab, que escolheu não usar. Aguardem :) Nadhy

4 comentários:

  1. O relato desta jovem é um verdadeiro testemunho de uma mulher que não que ser julgada por suas vestimentas ou por suas jóias, mas sim, quer ser reconhecida e lembrada pelo seu caráter,por seus atos para com o próximo! Ao levantar a bandeira da luta contra os esteriótipos que a sociedade consumista e materialista criou, ela prova que acima das marcas de luxo existem mulheres que se importam primeiramente consigo mesmo e não a comentários alheios que em nada crescentarão em suas vidas...

    Já dizia o velho ditado, nunca julgue um livro pela capa, e sim pelo seu contéudo.
    Salaam.

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  2. Parabens pela iniciativa do blog. Ajuda a quebrar nossos preconceitos sobre o islamismo. Parabens!

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  3. Assalamu Alaikum wa rahmatulahi wa barakatuh irmãzinha!

    Nad, me "esbarrar" contigo esses últimos dias, foi algo maravilhoso que me aconteceu.
    A questão do hijab é complexa mesmo... O problema é que reduzem a importância da mulher no islam, ao uso do hijab.
    Eu entendo que muitos que ingressam no islam, vêem no hijab uma opção de reforçar a nova identidade e começar a modificar também o cenário brasileiro.
    Mas não podemos reduzir a mulher muçulmana ao hijab, de forma alguma...devemos mesmo defender e apoiar as irmãs que por algum motivo importante,
    e muitas vezes até delicado não usam..Não encontram apoio da família por sua conversão,a pressão familiar e social, e ainda ter de aguentar o desrespeito
    de suas irmãs pelo fato de não compreenderem que não se trata somente de fé, mas sim de meios favoráveis para seu uso?!!
    A conduta feminina no islam não fica restrita somente ao uso do hijab, e isso podemos notar quando lemos alguma boa tradução do alcorão,
    ( A virtude não consiste só em que orientais vossos rostos até ao levante ou ao poente. A verdadeira virtude é a de quem crê em Deus, no Dia do Juízo Final, nos anjos, no Livro e nos profetas; de quem distribuiu seus bens em caridade por amor a Deus, entre parentes, órfãos, necessitados, viajantes, mendigos e em resgate de cativos (escravos). Aqueles que observam a oração, pagam o zakat, cumprem os compromissos contraídos, são pacientes na miséria e na adversidade, ou durante os combates, esses são os verazes, e esses são os tementes [a Deus]. 2:177 )
    mas um dos grandes problemas também, é que somos de um país com uma herança cultural portuguesa onde se procuram "resumir" as coisas e de uma tradição
    oral muito forte;

    "O que possuís é efêmero; por outra o que Deus possui é eterno. Em verdade, premiaremos os perseverantes com uma recompensa, de acordo com a melhor das suas ações. A quem praticar o bem, seja homem ou mulher, e for fiel, concederemos uma vida agradável e premiaremos com uma recompensa, de acordo com a melhor das ações"

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  4. Nossa! Fkei mto surpresa! Eu axava q a mulher muçulmana era triste, ignorante e infeliz. Axava q toda muçulmana tava ali obrigada. To aprendendo mto. Vo para de julga sem conversa antes. Amei o blog!

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